Tudo isto, que acontece todos os anos, já tinha sido suficiente para eu me jogar de roupa na cama, duas horas antes da ceia, e torcer para ser esquecido ali. Mas, para dar à noite um toque inesquecível, resolveu meu pai dar um esporro monumental na minha filha mais velha, na hora em tudo já se apagava. Um esporro daqueles que eu, até os 12 anos, levava uma vez por semana. Alto, berrado, desproporcional ao "crime" cometido, humilhante. O tipo de "souvenir" que ninguém quer levar de uma noite de Natal. Não culpo tanto o velho, como não posso culpar um urso de circo que um dia resolve se lembrar que é um urso e devora alguém da platéia. Ele agiu segundo a sua natureza. Eu o amo profundamente e passamos maravilhosos momentos nos últimos anos. Sei que ele estava cansado, com sono, tinha comido muito mais do que a sua diabetes recomenda. Mas foi, realmente, muito triste para mim e para minha esposa vermos nossa filha ser humilhada na noite do amor, da família e da fraternidade.
Não vou brigar com o meu velho, mas hoje pretendo ficar aqui no meu canto, longe do enterro dos ossos, longe do “espírito natalino”.
É isto...